Eu nunca havia conhecido a Inglaterra realmente como ela é. O máximo que fiz foi ficar sete anos em Hogwarts, e depois voltar para a França. Nunca havia visitado o Big Ben, nem London Eye, nem a Abbey Road. E, aproveitando os últimos dias antes de voltar para Hogwarts, desta vez, para transmitir conhecimento à próxima geração, decidi começar pela famosa roda gigante. Saindo de onde eu estava hospedada até o início do ano letivo, dei graças por ter pego um casaco. O inverno na Inglaterra era muito diferente do que o inverno do sul da França. Eu ainda tinha saudades de Montpellier. Saudades da mamãe, do papai, da vovó, de tudo. Do cheiro das orquídeas no quintal, saudades da Eveline. Oh, Eveline, por quantas coisas nós duas passamos juntas... juramos que nada ia nos separar, nem mesmo a morte. Se a morte não nos separaria, o que era uma mudança de país?

Perdida em pensamentos, não percebi o rumo que meus pés estavam tomando, e fiquei aliviada em ver que eles me levaram até onde eu queria ir. Onde eu decidi inciar meu tour pela Inglaterra. O London Eye. Observei a magnífca roda gigante. Lá na França, as rodas gigantes não tinham tamanho esplendor.Ander mais alguns metros e suspirei de alívio ao ver que a fila não era tão grande. Me prostei atrás de um homem um pouco mais alto do que eu, com grossos cachos morenos.

Após um breve tempo aguardando na pequena fila, as pessoas avançavam para tomar seus lugares nas respectivas cabines. Enquanto a mesma andava, olhei para cima. O tempo permanecia nublado. Desanimei um pouco. Sentia falta do sol. Pelo menos não estava mais chovendo. Também não estava nevando. A última coisa que eu precisava hoje era de neve.

Sendo a última da fila, não pude sentar sozinha em uma cabine, então, tive que sentar ao lado do mesmo homem que estava à minha frente na fila, que me cumprimentou com um tímido 'oi', para depois sorrir para mim com a mesma timidez.

- Oi. - respondi - Annabelle La Lèffierr. Qual é seu nome?

O rapaz apresentou-se como Diony Van Devereaux. Enquanto ele arquitetava uma pergunta, tentando desenvolver um senso de multi-tarefas, fiz uma avaliação de seu rosto ao mesmo tempo em que escutava a pergunta que ele me fez. Perguntava, com muita educação devo dizer, se eu era da França. Eu já esperava isso. Sempre irei esperar quando conhecer alguém aqui na Inglaterra. Pelo menos até quando todo o sotaque for eliminado.

- Sim, sou frrancesa. Nasci em uma cidadezinhe ao sul da Frrança chamada Montpellierr. Você non deve conhecerr. - completei.

Ele sorria, timidamente, mas sorria. Também olhava profundamente em meus olhos, curioso e tímido.

O próximo comentário dele fez o sangue subir até a minha cabeça e o rubor tomar conta de meu rosto. Além de elogiar Montpellier, cidade da qual morro de orgulho, me elogiou, ainda que numa voz baixa. Tentei armar alguma resposta, mas as palavras não formavam frases na minha cabeça, e mesmo que a frase tivesse se formado, o nó em minha garganta a impediria de ser verbalizada. A sorte foi que, para disfarçar meus reflexos lentos e retardados, as engrenagens começaram a fazer o seu trabalho de girar a London Eye. Murmurei um 'obrigada' quase inaudível.

Ele comentou que era natural de Londres, mas sonhava em conhecer a França. Sem querer me gabar, mas há motivos realmente relevantes. França atrai turistas principalmente pelo glamour. Glamour esse que não corre nas minha veias francesas.

- Bom... enton... já que você nasceu aqui, deve saberr muitas coisas sobrre Londrres. Eu... gostarria de conhecer os pontos turrístiques. Poderria me ajudar? - perguntei.

Ele aceitara. Assim, sem mais nem menos, sem hesitação alguma. Cheguei a pensar que ingleses não tinham um senso de escolha muito bom, mas seria injustiça culpar aquele país tão belo que me acolheu tão bem, e com aquele habitante em especial que, aparentemente, gostara tanto de mim. Em Montpellier, nunca houve nenhum garoto que tivesse se interessado por mim em especial, e eu culpava minha altura acima da média. Mas parecia que Diony não abrigava nenhum preconceito para comigo. Isso era uma sensação nova para mim. Ser acolhida sem nenhum tipo de aversão.Ele me perguntou o que eu estava achando da cidade.

- Bom... a cidade é marravilhosa! Eu só non gosto muite do clima. É muite frrie. O clima em Montpellierr é igual ao do norrte da Áfrrica, enton, você pode terr uma ideia de como é lá. Eu prrefirro o sol. - desabafei. Eu realmente sentia saudade do sol. - Mas aqui é totalmente diferrente. Essa aurra... essa... - eu me vi fazendo gestos com as mãos para tentar expressar-me, mas desisti ao ver que não conseguiria - É inexplicável. - terminei, sorrindo.