A Menina Que Roubava Livros

Ela ia ali todos os dias lembrar-se da morte de sua amada irmã mais velha. No começo ela chorava, as lágrimas caíam tão sofridas, tão cansadas...! Mas depois de um tempo a dor tornou-se uma parceira constante, assim como o buraco que Meridiana abrira ao sumir tão abruptamente, alguns anos atrás... Ela arrancou o coração da mais nova das Van Der Ville, e endureceu o de todas as outras. Juliette fingia-se de forte, sentia a dor em silêncio. Aguilar tocava canções infelizes no piano, relembrando o sorriso da irmã mais velha e Katherine pintava o rosto da irmã repetidamente, usando seus tons frios e infelizes.
Nenhuma delas se esqueceu da dor de ter Diana arrancada delas.
E agora Angèlique não suportava os sorrisos, não suportava os olhares, não suportava o fato de que o mundo continuou para todos, exceto por ela e as mulheres de sua família, que nunca teriam a sua vida restaurada, que passariam a eternidade batendo suas cabeças contra o muro da falta dela...
O tempo rolou para todos, até mesmo para sua mãe, que trancara o quarto que pertenceu a ela e nunca mais entrou lá, nem para limpar. E as flores que ela colocava religiosamente no túmulo dela começaram a murchar...
Não havia mais o jeito de boneca, a espontaneidade que iluminava seus dias naquele castelo sombrio, os olhos azuis que lhe perseguiam pelos corredores, os vestidos cor-de-rosa esvoaçando-se ao vento do jardim...
Não havia mais Meridiana Van Der Ville em sua vida.

ELA ERA VAZIA

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A Menina Que Roubava Livros

Ela estava apenas parada, fumando um cigarro trouxa, e olhando a chuva que caia incansavelmente e que tranqüilizava a sonserina. Ela suspirou irritada e deu uma forte tragada no cigarro, aproximando-se do parapeito. Ela queria poder inclinar-se, mas o medo de altura estava gritando como um monstro feroz em sua cabeça. Empurrou-o para o fundo da mente e inclinou-se, sentindo as chuvas tocarem levemente o seu rosto extremamente alvo. O cigarro jazia esquecido em uma de suas mãos, preso distraidamente entre seus dedos, e contrastando com as unhas que estavam sem esmaltes.
O cabelo loiro estava começando a ficar ensopado, e seu rosto virado para cima havia fechado os olhos instintivamente... As vestes começavam a molhar-se, também. Pela primeira vez em muito tempo, ela adorou aquela solidão. Aquela falta de amigos, aquela vontade de só sentar-se e dormir. Porque desta vez ela estava amando aquela sensação da água em contato com seu corpo, daquele sorriso sincero por uma coisa tão pequena. Ela se sentiu grande, maior que seus problemas. Esqueceu as tolices de suas irmãs que haviam ido sem pensar duas vezes para a Académie de Magie Beauxbâtons, e surpreendendo-se com a decisão dela de estudar em Hogwarts, a amada escola de Meridiana.
Elas disseram que ela ia apenas machucar-se ainda mais.
Bom, talvez. Mas ela gostava da sensação de companhia constante da irmã mais velha, mesmo que fosse uma companhia imaginária mais danosa que benéfica. Ela amava o som da chuva, ou de ver os flocos de neve caindo. Amava o tempo chuvoso, diferente do sol eterno e cinzento que fazia no vilarejo onde viviam e na Académie. Na verdade, ela amava a Inglaterra, com seus chás e seriedade aristocrática.
Não negava que era uma típica francesa, mas certamente fora temperada com os melhores temperos ingleses.

ELA ERA VAZIA

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E PORQUE ELA ACREDITAVA…

Eu estava cantarolando uma musiquinha qualquer, retirada do fundo do meu baú de coisas da infância, enquanto sentia o vento estupidamente frio balançar os meus cabelos estupidamente lisos. Isso aí, nada de cachos, só essa pele pálida e cabelo estranho fazendo com que eu pareça um cadáver. Mas que coisa irritante. De qualquer forma, eu estava passeando quando não devia, sentindo frio e muito sono, mas tédio demais para ir me deitar. De qualquer forma, tendo em vista o dia que era hoje, a maldita lua minguante, eu não poderia dormir tão cedo. Rolaria na cama até desmaiar de exaustão.
Então eu decidi que hoje eu iria me rebelar. Mandar aquela raiva, tanta raiva!, pro fundo do baú e tentar me acalmar. Andar era um exercício calmante, eu acho. Pelo menos foi isso que a Julie sempre disse. Ande, quando estiver nervosa ou irritada. Faz bem e ajuda a pensar. E, bom, eu precisava clarear as minhas idéias. Então, acalme-se mal humor.
Ri da minha própria insanidade. Suspirando, eu passei minhas mãos em meus braços, na tola tentativa de tentar me aquecer. Vi a estufa se erguer logo a minha frente, e decidi entrar. Já que está no inferno abrace o capeta, não é o que dizem?

ELES EXISTIAM.

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E PORQUE ELA ACREDITAVA…

Ela se viu no meio do fogo cruzado do que parecia ser uma briga antiga. Suspirou e se perguntou como apenas ela, e apenas ela conseguia se envolver nesse tipo de situação. Como podia? Tudo que ela queria era fumar em paz, droga! E, na verdade, ela nem ligava se a maldita grifina matasse as duas sonserinas, ela não dava a mínima. Ela podia fazer o que quisesse, podia torturá-las, espancá-las, estripá-las. Dane-se. Só não a envolve-se nessa baderna.
Ela odiava quando se tornava vítima de uma rivalidade estúpida de outras pessoas. Ela tinha seus próprios problemas para cuidar, suas próprias mortes pra lamentar, suas próprias inimigas para pisar. Não precisava de mais. E então via-se perdida como cega em um tiroteio, sem saber o que diabos estava acontecendo, e apenas podendo suspirar mal humorada e esperar o desfecho da história.
Ouvia a grifina fazer algum comentário arrogante e sorriu, sarcástica.
-Eu não pretendia fugir, querida.

ELES EXISTIAM.

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