Parecia que eu estava dormindo na companhia de um trator. A minha companheira de quarto roncava como se tivesse uma britadeira de estimação morando no seu estômago. Ou era ela ou eu.
Evidentemente, ninguém se preocupava com os meus problemas e escolha nenhuma foi feita. Eu mesma me retirei daquela aposento comunitário, rumando para o meu aposento privativo. Difícil não encontrar um que não estivesse empestado de ratos. E foi assim, abrindo todas as portas de Hogwarts nos meus pijamas que eu cheguei na sala do zelador. Primeiro andar. Considerando que eu vinha do último, foram muitas e muitas tentativas frustradas. Lá, parada como se nada pudesse a atingir estava Courtney Love. Aquele dia não estava tão disposta a me jogar nas chamas do pecado e sucumbir aos velhos e péssimos hábitos. Depois daquela ressaca federal, parei de beber pra sempre. Já etsou até usando puseirinha do AA, 10 horas sem beber.- Me desculpe. Só estou procurando um lugar para dormir... – disse-lhe somente com a cabeça metida no cômodo.

Poderia ter simplesmente virado as costas e ido embora. Sabia que a garota era problema e naquele instante era o que eu tentava evitar. Insisti no problema, como se as já duas experiências mal sucedidas não fossem o suficiente, fato era que eu não estava com sono, estava entediada e ela era a única possível diversão que encontrava ali. Até sentia uma certa cumplicidade, ela parecia odiar o lugar tanto quanto eu, provavelmente por razões diferentes. Talvez esteja interessada em saber o porque. Só talvez. - Hum... Você conhece o lugar melhor que eu... Não tem nenhuma suíte de luxo perdida por aí? - não, eu não tinha grandes esperanças de encontrar um quarto cinco estrelas perdido naquela espelunca. Agora eu já abrira a porta, mas ainda me mantinha do lado de fora, com as costas encostadas contra a porta.

Aposto que aquilo deveria fazer muito sentido para ela, mas para mim nenhum. Usei o mapa que me deram de Hogwarts para embrulhar um chiclete, portanto, não sabia como me locomover naquele colégio onde as escadas se moviam e os corredores pareciam idênticos. - Eu não sei onde fica, darling. Quem eu estou tentando enganar? Eu não vou conseguir dormir mesmo. Me faz companhia? - cedi a tudo que ela representava. Aquela poker face que ele insistia em cultuar, de: “decifre-me se for capaz”. Eu não achava que era capaz, mas estava entediada. Também não falava dos meus problemas, e talvez conversar pudesse me ajudar a lidar com eles. Ela com certeza não era boa em discursos, o que me faria acreditar ser uma boa ouvinte. De qualquer forma, quando desandava a tagarelar nem mesmo o fato de o ouvinte estar acordado se tornava relevante.

Ela sorriu, até pouco eu não achei que fosse capaz de tanto. Este ainda veio acompanhado de uma penca de palavras,mesmo que ela ainda não perecesse tão satisfeita em dizê-las e interessada nas minhas respostas. Talvez ela não fosse tão mal assim. Talvez aquela pose de fosse se desmanchar com o tempo e eu poderia esperar que não só que ouvisse, mas opinasse também. Fechei a porta atrás de mim e ocupei o lugar antes o dela. Estava um pouco frio, a camisola e o robe finos não eram tão eficientes, fazendo-me estremecer com uma leve brisa gelada. – Bem, meus calmantes acabaram e eu não consegui me adaptar muito bem por aqui. Acredito que você tenha percebido que eu não inglesa e muito menos francesa.

Ela confirmou minhas expectativas. Não gostava de Hogwarts, fugiria na primeira oportunidade. A pergunta era: ela tinha lugar melhor para ir? Eu voltaria para Nova York, onde governo como Rainha da Cocada preta, fazendo de minhas vontades, leis. Era reconfortante expulsar uma pessoa de uma festa simplesmente por que simplesmente a cor do seu vestido me dava dor-de-cabeça ou fazer bullying com os alunos bolsistas. Bons tempos os que eu jogava yogurte no cabelo de arame farpado daquela estudante de intercâmbio da Espanha... - Onde fica a saída? - ri da minha própria colocação.

Havia sempre um pouco de malícia embutida em cada frase, passo e gesto dela. Não sei se era só noia minha ou se a preocupação tinha fundamento. Mesmo com a pulga atrás da orelha eu a seguia até a floresta proibida, compartilhava de livre e espontânea vontade o mesmo cômodo pútrido e agora aceitava seu convite para apresentar-me a escola. Acredito que a perspectiva dela seja superior a aquele tour que fiz com o diretor apresentando a escola e a história dos seus tataratataratatara avós que ali dirigiram e blablabla. Se ela me mostrasse onde ficava a adega daquela lugar, já era uma grande conquista. Ops, esqueci que tinha parado de beber. Saí dali com Olivia.