O motorista do carro esperava pacientemente encostado na porta do mesmo, seu sapato batia ritmicamente contra a calçada. As pessoas passavam por ele com naturalidade, no centro de Londres em uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Defronte a um dos restaurantes mais conhecidos do país, o imenso carro preto ocupava toda sua frente. Havia um estacionamento onde os motoristas normalmente ficavam, mas aquele homem trabalhava para uma família importante demais para que os fizesse esperar enquanto levaria o carro até eles. Uma visível excitação do motorista denuncia a vinda de sua passageira. Com um movimento rápido ele tira seu quepe e o pressiona contra o peito, demonstrando respeito a jovem mulher que caminhava até ele. A menina que aparentava seu dezessete anos andava confiante pela calçada. Um funcionário do restaurante andava ao seu lado, dizendo. - Oh adorável, Srta. Chthon. Apreciou seu almoço? Como vai seu avô? Faz tempo que não o vejo...
- O homem continuava a falar enquanto ambos andavam, até que chegam ao carro e o motorista educadamente abre a porta para a menina, que com um sorriso falso se despede do homem. - Bom, muito obrigada pelo almoço, Pierre. Tenho de ir agora. Quem sabe não conversamos em uma próxima vez?
- Sem olhar para o rosto do homem, entra no carro e sentando-se espaçosamente no banco espera que o motorista tome sua posição defronte ao volante e diz à ele. - Vamos, rápido. Antes que ele comece a pedir esmolas pela janela...

Com determinação o homem pisa com força no pedal para acelerar e rapidamente o carro começa a andar. Como todo carro bruxo, este era diferente, sua velocidade passou para duzentos Km/h em dois segundos. E nada parecia tocar o carro, mesmo que este passasse por cima de outro carro. Era como se ele não existisse, mas ele existia. Dentro dele havia a neta de um dos maiores bruxos de todos os tempos. A menina de olhos triste, mas feições impetuosas tinha apenas 13 anos, prestes a completar seus 14 anos de vida. Seu nome era Sophie e em sua história manchas de sangue ainda eram visíveis. Filha de um amor proibido, entre os filhos dos "imperadores" do mundo bruxo da atualidade. A morte prematura do casal ainda ardia no coração da jovem, mas ninguém saberia dizer se ela ainda sofria, apenas seu avô que constantemente precisava pegá-la no colo e aninhá-la repetindo diversas vezes que tudo acabaria bem e que ela não estava sozinha, ele estava com ela. Mas mesmo o profundo amor que seu avô nutria por ela não satisfazia sua intensa necessidade de amor. Seu coração pedia mais e mais, mas este amor nunca chegava até ela... Seja por causa de sua história, ou pela maneira esnobe com que tratava os outros.

Sentada no carro, ela brincava preguiçosamente com a barra de sua saia. Seus olhos levantavam-se do chão de tempos em tempos para observar os prédios ficando para trás e os campos começarem a tomar conta da paisagem. Eles deixavam Londres para trás. Ela deixava sua casa, mas não seu lar. Ela não tinha lar, o lugar onde dormia era apenas a casa de sua família, de seu avô. Mas sempre que ia dormir trancava a porta com medo de que algum parente viesse pertubá-la, pois ninguém ali, além de seu avô, a amava ou ao menos gostava dela. Ela era odiada pelos Chthons e por mais que repitisse ao seu avô que não se importava com isso e que eles nem era assim tão ruins com ela, a dor em seu coração era constante devido a este fato. Ela queria o amor de sua família, mas nunca o confessaria e, provavelmente, nunca o teria.

A grande quantidade de malas no porta-malas do carro era a denúncia de que a menina estava indo para a escola, Hogwarts. A data no calendário dizia que as aulas já haviam começado havia um certo tempo, mas a menina não se importava. Ela não queria ter de voltar para a escola, por mais que sua casa fosse ruim de se viver, a escola era pior. Porque além dos primos Chthons a ferindo por meio de palavras havia também os Armstrongs, que a perseguiam pela a escola fazendo o possível para que ela sofresse. Ela não tinha amigos e passava o dia inteiro ou estudando ou patrulhando os corredores. Tabalho que fazia por ser uma das monitoras da escola. Seu esforço na escola era único e exclusivamente para agradar seu avô. Por sua vontade, ela teria fugido de todo o mundo bruxo e teria se contentado em viver em uma pequena casa na beira de qualquer praia, onde o silêncio e a solidão seriam as suas únicas companhias.

Com a velocidade em que o carro ia, não se demoraram para chegar ao destino previsto. Em alguns minutos a grandes torres de Hogwarts já apareciam por detrás de grandes colinas. Com um suspiro pesado a menina se ajeita no banco e lança um último vislumbre no espelho para ver seu reflexo. Suas belas feições representavam o que havia de melhor em ambas as famílias das quais vinha o seu sangue. Mesmo bela a menina nunca havia namorado, mas também nunca havia aberto espaço para qualquer menino que viesse tentar conquistá-la. E vários tentaram se aproximar dela, e nenhum, nem ao menos um, conseguiu tal feito. A velocidade do carro diminui e o castelo em sua imensidão tampava todos os raios de sol que destinavam-se a capota preta do automóvel. Esperam apenas algum segundo defronte aos portões, que ao reconhecerem o carro da neta do Diretor, abrem a porta rapidamente e com educação alguns elfos domésticos a saúdam enquanto entra nos terrenos da escola.

Com um tranco imperceptível o carro para no pátio de entrada. Rapidamente o motorista deixa seu posto para abrir a porta para Sophie, que com delicadeza e estilo desce do carro. O primeiro toque do seu pé com o chão já traz um renovado peso para suas costas. Mais um ano dormindo na mesma cama com cortinas azuis, convivendo com as mesmas pessoas odiosas que, normalmente, a esnobavam. Mais um ano correndo atrás de estudos e boas notas, tentando agradar seu avô e tentando esquecer a dor que sempre a perseguia. Ao olhar novamente para o carro vê que suas malas já haviam sido levadas, por elfos domésticos, em direção ao dormitória feminino da Corvinal, sua casa. Alguns alunos transitavam pelo local, alguns novatos olharam para ela e seu carro, mas a menina não correspondeu ao olhar deles. Ela apenas se endireitou e caminhou em direção a imensa porta de madeira que a conduziria para dentro do castelo.

A cabeça em pé e o nariz empinado demonstravam que ela não seria facilmente abalada. Com determinação em cada passo ela deixa para trás apenas um pouco de sua dor, mesmo que ainda tenha muita dor nela. Uma espécie de sorriso no rosto apenas para demonstrar-se condizente com o grande distintivo de monitor que habitava em seu peito.O motorista já havia ido embora, não sem antes receber um tímido. - Obrigada! - De Sophie. Seu humor ou gênio não há deixavam ser mal educada, seu avô a havia educado desta maneira, elegância e superioridade sempre, mas nunca a falta de educação. Com a varinha entrelançando-se em seus dedos, pronta para se defender de qualquer parente mais atrevido que viesse incomodá-la. Com força ela cumprimenta mais um ano de aulas que não seria fácil.